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As ultimas fotografias da Antiga Rodoviária de SP.

Projeto reflete sobre a preservação da memória na cidade em constante mudança.

A antiga rodoviária. Renato Negrão.

No ano passado um prédio que já foi um marco da cidade de São Paulo foi abaixo, a antiga rodoviária da cidade, situada em frente a estação Julio Prestes e Sala São Paulo, na região central. Como parte do projeto de recuperação do centro velho, o prédio que já abrigou um shopping atacadista, mais um pedaço da memória da cidade não resistiu as mudanças.

O fotógrafo e professor Renato Negrão registrou o prédio no dia do inicio de sua demolição, como ensaio para o projeto "Paisagem e Memória. Diálogos sobre a transformação da metrópole." que realiza junto com a também fotógrafa e professora Camila Garcia.

O projeto conta com apoio da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, e pretende ser um lugar na Internet para refletir sobre a preservação da memória na cidade em constante mudança.

A antiga rodoviária. Renato Negrão.

Renato Negrão escreveu um belo texto relatando como foi o ensaio das ultimas fotografias da antiga rodoviária. Acompanhem:

"No dia 22 de março de 2010, uma segunda-feira, começou a demolição do prédio da antiga rodoviária de São Paulo. Cheguei, meio tímido, mas fui bem recebido pelos funcionários. Tinha um certo clima de animação no ar, talvez essa necessidade de progresso, que neste país é muitas vezes associadas à destruir o antigo para construir o novo. Estavam todos lá meio eufóricos para começar os trabalhos.

Nas ruas em volta, que normalmente é um caos, a situação era bem mais confusa, os viciados andavam desnorteados, custando a entender o que se passava. O carma da Cracolândia vem de longe: a região já foi chamada de "Quadrilátero do Pecado" e "Boca do Lixo paulistana". Nos anos 1950 e 1960 foi um lugar de encontro de boêmios, malandros, casas de prostituição. Hoje a região central de São Paulo é um aglomerado de viciados em craque, um grande problema para administração pública que não sabe o que fazer e como recuperar essas pessoas.

Uma coisa era certa, o enorme prédio que abrigou a rodoviária, e depois se trasnformou num shopping center estava prestes a cair por terra, levando consigo uma parte da história da cidade. Mas ninguém parecia se preocupar com isso, desde os funcionários da empresa de demolição, passando pelos moradores do bairro e as pessoas envolvidas no projeto de revitalização do centro, estavam, cada uma delas, mergulhadas em seus pensamentos e necessidades.

Entrei no prédio abandonado, os empregados estavam ocupados em tirar os mendigos q
ue se escondiam no meio de uma grande quantidade de entulhos. Um raio de luz vindo do teto, metros acima, projetava uma luz inacreditável na fonte no centro do prédio. Lembrei de uma famosa fotografia da Estação de trem de Nova York, tirada nos anos 1930, por Hal Morey e não pude deixar de comparar com a realidade que eu presenciava. Quem visita a cidade hoje ainda encontra a Estação, reformada, mas lá, testemunha do passado da cidade.

Subi até o telhado do prédio. Ali, me equilibrando entre as telhas, sentei num lugar seguro. A paisagem privilegiada da cidade acalmava meus pensamentos. Lembrei então de uma citação que encontrei no livro Paisagens Urbanas, de Nelson Brissac Peixoto, que tem me ajudado muito nas pesquisas para este projeto e que transcrevo aqui:

O Europeu B. White em visita a São Paulo escreveu: "Vi São Paulo pela primeira vez da janela do meu hotel e devo dizer que parece uma cidade dos mortos. Vista do alto de um edifício de trinta andares, a cidade se apresenta ao observador como um submundo, como um reino das sombras, no qual os arranha-céus, em sua uniformidade, se apresentam como lápides num cemitério. E quando a gente passeia pela cidade, vê-se logo o inacabado e o que já está decaindo. Faltam a essas construções os traços de história, de memória de uma vida bem-sucedida, tal como ainda existe nas cidades européias. Daí não se poder
denominar ruínas os inexpressivos conglomerados de arranha-céus. Uma ruína implica a lembrança de uma forma bem-sucedida, cujos indícios nem o mais habilidoso vasculhador de pistas poderia encontrar em São Paulo".

Fiz algumas imagens, mas logo meu trabalho foi interrompido por um funcionário que me convidava a descer. Eles estavam prontos para começar a derrubar a primeira parede e ele perguntou se eu queria acompanhar... "

Renato Negrão.

A antiga rodoviária. Renato Negrão.

Leia o texto na integra aqui.
Veja outras imagens do ensaio aqui.


5 comentários:

  1. Gostaria de ver as fotos dos ônibus estacionados nas plataformas, preparados para partir para o interior de São Paulo e outros Estados do Brasil a fora. Lembra meu tempo de office-boy, nos idos de 1965. Saudades desta época de tranquilidade no centro da Capital.

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  2. Não há mais fotos da antiga Rodoviária?

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  3. Existe um conteúdo no site www.saopauloantiga.com.br

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  4. Os links do texto na integra e outras imagens estão corrompidos.

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  5. Ué não entendi???O Serra não ia fazer uma escola de Ballet no local? Não foi por isso que ela foi demolida??? Cade a escola??? E ele havia indenizado os proprietários com R$ 30.000.000,00 ... Vai entender, esses governadores!!! Manda pintar os trens de vermelho de uma ferrovia só por capricho...

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