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A cidade desaparecida de Militão Augusto de Azevedo

 Mostra com 80 imagens do primeiro fotógrafo que registrou a paisagem urbana paulista.



O Museu Casa da Imagem inaugurou a mostra “A cidade desaparecida de Militão Augusto de Azevedo”,  em São Paulo.

Com curadoria de Henrique Siqueira e Monica Caldiron, a exibição fotográfica resgata uma cidade desaparecida – da qual sobraram poucas igrejas, o traçado de algumas ruas e as fotografias produzidas por volta de 1862 – e comemora os 150 anos das primeiras vistas urbanas da cidade, produzidas por Militão.

Para esta exposição foram selecionados documentos catalográficos, três negativos de vidro e 80 das 113 fotografias da “Coleção Militão Augusto de Azevedo”, sob guarda da Casa da Imagem; além da exibição do “Álbum Comparativo da Cidade de São Paulo 1862-1887”, pertencente à Biblioteca Mário de Andrade.

O museu também promove o lançamento do livro “Militão Augusto de Azevedo” e apresenta a instalação “Tombo”, da artista Rochelle Costi, realizada a partir de pesquisas com material do acervo da instituição.

As mostras ficam em exibição até o dia 25 de novembro.
Largo de São Bento, 1887

A cidade desaparecida de Militão Augusto de Azevedo


Nos primeiros anos de 1860, em São Paulo moravam cerca de 30 mil pessoas em casas de taipa e cobertas com telha batida, alinhadas em ruas desordenadas pelas quais tropas se deslocavam cruzando os largos em direção às estradas. Nesse período, poucas nascentes forneciam água de boa qualidade e a população transitava nas ruas com potes para coleta nas fontes. O tempo fluía brandamente: percorria-se a pé de um extremo ao outro (Piques, Carmo ou Seminário) e a passagem das horas era assinalada pelos sinos. Não eram raros trajes cobrindo os rostos, e as janelas com treliças permitiam a observação discreta da rua. Passeios a lugares distantes, como o Brás ou a confluência dos Rios Tamanduateí e Tietê, duravam o dia todo.
Rua do Rosário, 1862

Nesse cenário, por volta de 1862, vindo do Rio de Janeiro, Militão Augusto de Azevedo (1837-1905) estabeleceu-se em São Paulo e passou a trabalhar como assistente do estúdio Carneiro & Smith.

Coube ao jovem carioca realizar a primeira documentação fotográfica da paisagem paulista, a mais rica descrição iconográfica produzida nesse período. Em 1875, adquiriu o estúdio que recebeu sucessivamente os nomes de Photographia Acadêmica e Photographia Americana. Neste último estabelecimento havia um caderno de atividades no qual miniaturas dos retratos dos clientes eram coladas ao lado do número da ordem de serviço, instrumento de controle que, no século seguinte, se transformou no mais importante inventário dos tipos sociais de sua época, revelando a diversidade de frequentadores e a composição da sociedade – escravos, comerciantes, estudantes, personalidades. A concorrência entre as casas de fotografia intensificava-se nesse momento, impulsionada pelos alunos da Academia de Direito, ávidos por recordações da fase estudantil. Era frequente a publicação de anúncios no Correio Paulistano oferecendo serviços fotográficos, entre os quais ressaltamos um que ilustra o prestígio do retrato. Assinado por Gaspar Antônio da Silva Guimarães, sócio do estúdio em que Militão trabalhava, o anúncio concedia generoso desconto aos voluntários da Guerra do Paraguai (1864-1870), que desejavam perpetuar sua fisionomia como lembrança aos mais próximos e queridos.

Ao término da Guerra as locomotivas da São Paulo Railway cruzavam as várzeas e a noção de progresso e modernidade ganhou impulso. Nas décadas seguintes, as técnicas construtivas europeias sobrepuseram-se às antigas construções, redesenhando o espaço urbano.
Largo da Cadeia, 1862
Apesar da intensa participação de Militão como retratista nesse período, o Photographia Americana encerra as atividades em 1887. Percebendo as marcas do tempo, o fotógrafo decide retornar aos pontos registrados na década de 1860, produzindo a sua segunda documentação das ruas. O resultado desse novo ensaio apontou modificações surpreendentes, como nos Largos da Assembleia e do Palácio. Surge nesse ano o Álbum Comparativo de Vistas da Cidade de São Paulo (1862-1887), relacionando as duas documentações, edição que marcou o final do percurso profissional de Militão, já aos 50 anos de idade.

Pouco restou desta cidade, exceto algumas igrejas (São Gonçalo, Convento da Luz), o Obelisco do Piques, o traçado das ruas, a memória dos viajantes e o ensaio fotográfico realizado por Militão Augusto de Azevedo há exatos 150 anos, cujas matrizes em negativo de vidro, reproduzidas por Aurélio Becherini em 1915, encontram-se preservadas no acervo da Casa da Imagem de São Paulo.


EXPOSIÇÃO “A CIDADE DESAPARECIDA DE MILITÃO AUGUSTO DE AZEVEDO”
Quando: de 22 de setembro a 25 de novembro – de terça-feira a domingo, das 9h às 17h
Onde: Casa da Imagem – Rua Roberto Simonsen, 136-B – Centro – São Paulo – SP
Quanto: entrada gratuita
Informações 11. 3106.5122; www.casadaimagem.sp.gov.br

Ladeira do Meio e de São Francisco, 1862
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O blog Alem do olhar - fotografia é um espaço sobre a arte-oficio da fotografia, mantido desde 2008 pelo fotógrafo Márcio Neves.
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