Um olhar sobre "O Cruzeiro".
Exposição no IMS- Rio, conta um pouco das origens do fotojornalismo no Brasil.
O Instituto Moreira Salles do Rio
de Janeiro abre em 10 de julho (terça-feira), às 19h, a exposição Um olhar
sobre O Cruzeiro: as origens do
fotojornalismo no Brasil, com mais de 300 imagens e matérias que revelam
a história da principal revista ilustrada brasileira do século XX, que foi
decisiva para a implantação do fotojornalismo no país. A exposição tem como fio
condutor a relação entre as imagens produzidas pelos fotógrafos e as
fotorreportagens tal como foram publicadas. Essa abordagem, até hoje inédita,
terá como foco as décadas de 1940 e 1950, período de maior inventividade e
penetração social da revista. A curadoria da mostra é da professora e curadora do Museu de Arte Contemporânea da USP, Helouise Costa, e de Sergio Burgi, coordenador de fotografia do Instituto
Moreira Salles. No dia da abertura, será realizada uma mesa-redonda com o
jornalista e escritor Fernando Morais;
Flávio Damm e Luiz Carlos Barreto, que colaboraram para a revista como fotógrafos;
e a curadora Helouise Costa. A
entrada é gratuita e os lugares são limitados.
Na exposição, serão apresentadas
as contribuições de Jean Manzon, José Medeiros, Peter Scheier, Henri Ballot,
Pierre Verger, Marcel Gautherot, Luciano Carneiro, Salomão Scliar, Indalécio
Wanderley, Ed Keffel, Roberto Maia, João Martins, Mário de Moraes, Eugênio
Silva e Carlos Moskovics, além de Flávio Damm e Luiz Carlos Barreto. Muitas das imagens
pertencem ao acervo IMS. Outras foram cedidas por outros acervos: jornal Estado
de Minas, Fundação Pierre Verger, APESP (Acervo
Público do Estado de São Paulo), Coleção Samuel Gorberg e os acervos pessoais de
Luiz Carlos Barreto e Flávio Damm.
Publicada pelos Diários
Associados, de Assis Chateaubriand, a
revista O Cruzeiro foi lançada em
1928 como uma publicação semanal de variedades, de circulação nacional. Tornou-se
um dos mais influentes veículos de comunicação de massa que o país já conheceu.
No início da década de 1940, incorporou o modelo da fotorreportagem,
tornando-se pioneira na implantação do fotojornalismo no Brasil. “Mesmo após 38
anos do fechamento da revista, constatamos que ela continua sendo uma
importante referência para os profissionais da imprensa
brasileira, muito embora seja pouco conhecida pelas gerações atuais”, explica a
curadora Helouise Costa.
A exposição do Instituto Moreira
Salles apresentará alguns temas recorrentes nas páginas da revista. As
informações abaixo, extraídas dos textos dos curadores da mostra, resumem cada
um dos assuntos.
- O índio: a temática indígena foi uma constante nas
fotorreportagens de O Cruzeiro. A
dominação do índio era vista não só como inevitável, mas necessária à
modernização do país, ideia apoiada pelo governo, que lançava um projeto de
integração do índio à sociedade civil. Inaugurado em 1944 pela fotorreportagem
de Jean Manzon e David Nasser sobre uma comunidade xavante nunca antes
contatada, o tema do índio ganharia, nos anos seguintes, a contribuição de
outros fotógrafos, em especial de José Medeiros e Henri Ballot.
- A imprensa
e o sistema de arte: a virada das décadas de 1940 e 1950 no Brasil foi
marcada pela fundação de importantes instituições culturais, como o Masp (1947),
em São Paulo,
e o MAM do Rio de Janeiro (1948). Embasados no discurso da democratização da
arte, esses empreendimentos foram resultado da iniciativa privada. Quando Assis
Chateaubriand criou o Masp, estabeleceu um estreito vínculo entre a dinâmica do
sistema de arte local e os interesses da indústria de comunicação de massa. Não
por acaso, O Cruzeiro publicaria
constantemente fotorreportagens sobre o museu. Personalidades da elite
econômica e política do país seriam retratadas em vernissages, cerimônias e banquetes, ou até mesmo em um luxuoso
desfile de moda realizado em meio às obras de arte.
- A autonomia da câmera: a discussão é um exemplo de como, na
exposição, serão problematizadas as questões relativas à linguagem fotográfica.
A autonomia da câmera, seja fotográfica ou
cinematográfica, teve forte presença no imaginário do período entreguerras,
materializando a vontade de superação dos limites da visão humana e de sua
adequação aos desafios da modernização.
- A política na fronteira entre o público e o privado: os vínculos de Getúlio Vargas com O Cruzeiro remontam ao pedido de auxílio
financeiro feito por Assis Chateaubriand, no final dos anos 1920, para o
lançamento da revista. Vislumbrando os benefícios que poderia obter com a
publicação, o então ministro da Fazenda intermediou a cessão dos recursos
solicitados em troca de apoio político. Dali por diante, as relações de O Cruzeiro com Vargas seriam
caracterizadas pela instabilidade. As matérias sobre o político gaúcho iam da
adesão irrestrita aos ataques diretos, passando por momentos de apoio tácito.
- Faits divers – entre a
notícia e a ficção: um dos muitos recursos utilizados pelas revistas
ilustradas para atrair o interesse dos leitores era a publicação de reportagens
ligadas ao universo dos chamados faits
divers. O termo, de origem francesa, foi incorporado ao vocabulário do
jornalismo para se referir a reportagens sobre temas não muito relevantes, que
não se enquadram nas editoriais tradicionais e têm pouca relevância social e
política. A revista O Cruzeiro abriu
um amplo espaço aos faits divers em
suas fotorreportagens. Assuntos banais eram envolvidos em um clima de suspense,
como ocorre em “Amor e morte na cidade de cera”, que, contrariando a manchete,
trata apenas do trabalho de um criador de abelhas.
- Fotorreportagens seriadas: O
Cruzeiro reúne diversos exemplos em que as narrativas não se esgotam apenas
em uma única fotorreportagem, mas se desdobram em séries de média ou longa
duração. As séries estimulavam o consumo regular da revista e induziam o
público a colecioná-la. Uma das reportagens seriadas de maior repercussão, na
década de 1950, abordou a história da índia Diacuí. Assis Chateaubriand decidiu
interceder junto ao governo federal a fim de obter autorização para o casamento
de Diacuí com o sertanista Ayres Cunha. A união havia sido negada pelo Serviço
de Proteção ao Índio, mas Chateaubriand não apenas conseguiu o aval do Estado e
da Igreja para o seu projeto, como transformou o caso em uma verdadeira novela
da vida real, exibida em capítulos na revista entre 1952 e 1953.
Um olhar sobre O Cruzeiro: as origens do fotojornalismo no Brasil
Abertura: 10 de julho de 2012, às 19h
Mesa-redonda com Fernando Morais, Flávio Damm, Luiz Carlos Barreto e Helouise Costa
Exposição: de 11 de julho a 7 de outubro de 2012
De terça a domingo, das 11h às 20h
Entrada franca - Classificação livre
De terça a sexta, às 17h, visita guiada pelas exposições.
Visitas monitoradas para escolas: agendar pelo telefone (21) 3284-7400.
Instituto Moreira Salles – Rio de Janeiro
Rua Marquês de São Vicente, 476, Gávea
Imagens da revista:
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