Feriado de Finados.
Na segunda-feira, 02/11, tivemos um feriado que me lembrou um ensaio fotográfico do ano de 2000.
Naquele ano ainda era estudante de fotografia no CCA do Senac e assistente no Senac-Osasco.
No ano anterior tinha iniciado os estudos de fotografia e passei pelo mesmo cemitério no dia de finados, a câmera estava na bolsa e as imagens estavam diante de meus olhos, porém, os momentos tão intimistas das pessoas ali presentes foram fortes ao ponto de intimidar o fotografo iniciante a pegar a câmera e registrar estes momentos.
Então, no ano seguinte, com um teleobjectiva adquirida e com imagens daquele dia ainda na memória retornei ao mesmo cemitério. As imagens se tornaram o trabalho de conclusão daquele curso.
Abaixo um texto, escrito tempos depois, sobre o ensaio:
“Dia de finados”
“...Nós todos temos medo da morte. Mas nós já morremos. Olhe sua fotografia de formatura do ginásio, “ele” está morto. Olhe a foto do seu casamento, “ela” está morta. Precisamente agora, você morreu.
Tentar comunicar os sentimentos verdadeiros de alguém em meus próprios termos é um constante problema. Sou compulsivo com minhas preocupações e com a morte...”
(Duane Michals)
Todos temos medo da morte, e justamente por isso evitamos ao máximo todas as coisas, lugares e situações que nos trazem a lembrança de que isto é um fato , uma lei da natureza irrevogável, todo ser vivo um dia morrerá.
Na tradição Cristã devemos enterrar nossos mortos e lembra-los, e para “preservar” esta memória dos já falecidos existe o dia de finados.
Dia em que se visita os cemitérios, aliás, o único dia em que parece haver mais vivos que mortos ali; velas, flores e lágrimas trazem a lembrança, a saudade de quem se foi ou o próprio medo de ir um dia.
Os sentimentos estão expostos neste dia, e parece que mais expostos em um cemitério popular, ali parece não haver vergonha ou medo de expor os sentimentos, pois muitas vezes, este já esta estampado no rosto, não há mais o que expor.
Ali apenas cruzes guardam seus mortos, nada de belas imagens como em outros cemitérios, e quando uma imagem aparece, também parece sofrida.
O sofrimento, a saudade, o medo, e até a inocência da criança, sentimentos de um dia diferente, um feriado que para alguns é um dia alegre, afinal é feriado, para outros é dia útil, e para muitos é dia triste.
Sentimentos expostos, expostos ao filme sensÃvel à luz, aos olhos sensÃveis à s imagens. Sensibilidade testada ao ser exposta à percepção da própria morte que chegará um dia.Que chegou a todos que ali estavam, os mortos já enterrados, e os que morriam naquele momento, pois sempre morremos quando mudamos, e impossÃvel não mudar ao sair de um cemitério em um dia de finados.
Que todos descansem em paz!
(O ensaio foi realizado no cemitério municipal Santo Antônio, um cemitério popular de Osasco-SP, no dia 02 de Novembro de 2000, como trabalho para conclusão do Módulo III do curso de fotografia no Centro de Comunicação e Artes do SENAC.
O ensaio tem como objetivo mostrar um cemitério popular, e as diversas reações das pessoas que por ali transitam em um dia de finados.)
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