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Exposição: Luiz Braga: Máscara, espelho e escudo

Os personagens e as cores do Pará de Luiz Braga em cartaz em São Paulo.


Com curadoria de Paulo Miyada e Priscyla Gomes, a exposição reúne pela primeira vez um conjunto de retratos em cores feitos por Luiz Braga nas últimas quatro décadas.  É por intermédio da ideia do retrato que as trajetórias de Pierre Verger e Luiz Braga, fotógrafos de proveniências e gerações distintas, se encontram agora nos espaços do Instituto Tomie Ohtake

Tratam-se de figuras célebres em captar delicada e sensivelmente feições, espíritos e ânimos, colaborando expressivamente para a consolidação de uma fotografia brasileira atenta à cultura popular e às diferentes centralidades de um país de imensa escala territorial.


Luiz Braga/ Vendedor de pamonha, 1986

Nascido em Belém do Pará, Braga seguiu vivendo e trabalhando onde cresceu. Suas incursões vão da cercania de seus trajetos cotidianos, adentrando casarios ribeirinhos pouco visitados pela classe média paraense, até a ilha de Marajó, que fica a 90 km da capital. Como os curadores apontam, foi nesta periferia belenense que Braga cria uma forma própria de colorir, distinta do restante de cidade, e dessa percepção também se sobressaíram as nuances de uma sabedoria e estética popular muitas vezes negligenciadas. Essa percepção foi motora de sua escolha, na década de 1980, por fotografar em cores utilizando filmes Kodachrome, o que implicava mandar os negativos para o exterior e aguardar 3 meses até conhecer o resultado de cada clique.

Segundo Miyada e Gomes, a identidade que tornou Luiz Braga amplamente reconhecido dentro e fora do Brasil foi a de cronista das cores e dos signos cotidianos do Pará, com sua singular imbricação da inventividade popular com a densidade atmosférica amazônica. Além disso, é possível ver outros desdobramentos.


Luiz Braga/ Mulher no bar rosa, Belém, 1990

Em primeiro lugar, prosseguem os curadores, nota-se como a adoção da cor fez com que seus retratos mantivessem um diálogo constante com a história da pintura. Isso se anuncia pela relação cromática entre personagens e ambientes e se aprofunda com a tensão constante entre o que entra e não entra em foco, o que ocupa o centro e as bordas dos enquadramentos e, especialmente, entre as linhas de força que ligam o olhar dos retratados e o ponto de vista do fotógrafo.

Em segundo lugar, a dupla destaca que é possível perceber como a constância no envolvimento de Luiz Braga com certos territórios fez com que ele alcançasse cumplicidade com as retratadas e retratados, de quem costuma escutar muitas histórias e com quem constantemente volta a se encontrar outras tantas vezes ao longo dos anos. “Tal cumplicidade atua nas dinâmicas que tornam os retratos possíveis, nem sempre explícitas ao observador das imagens”

A fotografia, escreveu Luiz Braga, é máscara, espelho e escudo. É uma mediação, uma zona de contato em que aquele que registra e seu retratado estabelecem um diálogo complexo.


Luiz Braga/ Raylana, 2013


Para dos curadores, refletir sobre a complexidade desse diálogo torna-se especialmente instigante na elaboração imagética dos retratados eleitos por Braga

“São traços locais de uma existência popular em que diferentes etnias, costumes, ritos e contextos sociais se entrelaçam numa região que teve sua centralidade muitas vezes negligenciada. Num país de desenvolvimento desigual e combinado, a Amazônia é síntese prolífica da vivacidade de indivíduos, seus saberes e hábitos, frente ao escasso acesso a infraestruturas básicas e a políticas comprometidas pela predação do seu entorno. Os exemplos são vastos: as queimadas desertificantes, o contrabando madeireiro, o garimpo venenoso, o manda-matar-e-deixa-morrer, o genocídio dos povos indígenas... que impactam a vida das populações ribeirinhas interpeladas há décadas por um discurso de progresso cujas benesses nunca as alcançam senão como miragem”, completam.


Exposição: Luiz Braga: Máscara, espelho e escudo

De 13 de agosto a 12 de dezembro de 2021. 

De terça a domingo, das 12h às 17h. Entrada franca.

Instituto Tomie Otake

Av. Brigadeiro Faria Lima, 201, Pinheiros, São Paulo – SP CEP 05426-100

Entrada pela Rua Coropés,88.

A 800m do metrô Faria Lima (linha amarela)



Fonte: Instituto Tomie Otake

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