Exposição mostra o trabalho do principal fotógrafo brasileiro do século XIX.
A exposição Marc Ferrez: Território e Imagem apresenta a extensa obra do fotógrafo realizada por todo o país ao longo de mais de 50 anos de sua atuação profissional, entre 1867 e 1923. Marc Ferrez (1843–1923) percorreu as regiões Nordeste, Norte e Sudeste como fotógrafo oficial da Comissão Geológica do Império do Brasil (1875-1878), e as regiões Sul e Sudeste como fotógrafo das principais ferrovias em construção e modernização naquele momento. Nascido e radicado no Rio de Janeiro, Ferrez documentou também intensivamente a capital do Império e seu entorno. Sua atividade profissional e criativa foi marcada pela busca permanente de inovações tecnológicas e de linguagem, em associação com grandes nomes da engenharia, da ciência e das artes.
A mostra, com mais de 300 itens do acervo do IMS e de outras instituições, incluindo fotografias e álbuns originais, negativos de vidro, estereoscopias, autocromos, câmeras e equipamentos fotográficos, documentos originais e correspondências, discute o papel da imagem fotográfica no processo de exploração do território nacional, em suas diversas regiões, e de sua construção e consolidação como ideia de nação, em especial durante o Segundo Império e início da República. E percorre, ao mesmo tempo, os diversos territórios da imagem explorados por Ferrez em sua prática profissional, da fotografia em colódio à fotografia colorida, ao cinema, à página impressa, e à comunicação visual de massa.
Mais conhecido por suas imagens icônicas da cidade do Rio de Janeiro, Marc Ferrez foi também o primeiro fotógrafo a documentar extensivamente o território brasileiro, primeiramente como fotógrafo da Comissão Geológica do Império do Brasil (1875-1878), percorrendo os estados de Pernambuco, Paraíba, Alagoas, Sergipe, Bahia, incluindo diversos trechos do Rio São Francisco e, posteriormente, como fotógrafo da construção e modernização das principais ferrovias do país, nos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Santa Catarina.
Fotografou o trabalho escravo em diversas fazendas de café no vale do Paraíba, nos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo e realizou trabalhos comissionados em associação com as atividades de pesquisa e mineração no estado de Minas Gerais e com a Escola de Minas de Ouro Preto, incluindo as primeiras fotografias realizadas com luz de magnésio no interior das minas de ouro de Morro Velho em Minas Gerais.
Permanentemente associado ao campo da engenharia e da ciência, e em constante interação com os principais nomes de seu tempo nestas áreas, Marc Ferrez documentou grandes projetos de engenharia do Império e da República, como a construção da estrada de Ferro Curitiba Paranágua, importante obra realizada em 1883 pelo engenheiro Francisco Pereira Passos, que vinte anos depois também estaria à frente das obras de construção da Avenida Central no Rio de Janeiro, onde Ferrez atuou como fotógrafo oficial da Comissão Construtora da avenida.
Estes diversos trabalhos comissionados o colocaram na fronteira da inovação tecnológica em seu tempo, tendo buscado também permanentemente expandir as fronteiras de sua própria fotografia e produção de imagens, através, por exemplo, do emprego e adaptação de câmeras panorâmicas de varredura, câmeras especiais para registros de navios e embarcações e novos processos, como a platinotipia, as chapas de gelatina e prata e os processos coloridos, como o autocromo.
Colaborou com os diretores do Observatório Nacional no Rio de Janeiro, Luis Cruls e Henrique Morize, em projetos ligados à aplicação da fotografia na astronomia e em outros campos da ciência. Com Morize, pioneiro da realização de fotografias por Raio-X no Brasil, manteve intensa troca de correspondências em torno de temas associados aos diversos campos de desenvolvimento da fotografia científica e da ciência fotográfica. Em 1912 participou presencialmente em Passa Quatro em Minas Gerais e em 1919 acompanhou à distância em Sobral no Ceará os trabalhos de registro fotográfico dos eclipses solares que levaram à comprovação definitiva da teoria da relatividade de Albert Einstein, a partir das imagens obtidas com sucesso em Sobral pelas equipes de astrônomos ingleses e brasileiros,esta última liderada por Henrique Morize.
A partir da sociedade formada com seus filhos em 1907, Marc Ferrez investiu na expansão de suas atividades nas áreas de comercialização de equipamentos e produtos fotográficos e cinematográficos, na produção e comercialização de impressões fotomecânicas, na distribuição de novos produtos para o mercado amador, como os autocromos e estereoscopias, e, especialmente, na distribuição e exibição de filmes cinematográficos, sendo estes os principais campos que viriam a consolidar, a partir do início do século XX, a era da comunicação visual de massa baseada na circulação intensiva da imagem fotográfica e cinematográfica, profissional e amadora, processo este somente possível pelos avanços tecnológicos originados na intersecção da ciência com a técnica e pela intensa atividade de comercialização de processos e produtos, que no Brasil teve em Marc Ferrez seu principal ator e agente. A carreira fotográfica de Marc Ferrez percorre, assim, mais de cinco décadas de profundas transformações no campo da imagem, e, nesse sentido, sua trajetória e seu legado constituem, sem dúvida, uma plataforma única para a compreensão do país e de sua representação ao longo do século XIX e primeiras décadas do século XX.
Marc Ferrez (1843-1923), principal fotógrafo brasileiro do século XIX, dono de uma obra que se equipara à dos grandes nomes da fotografia em todo o mundo, é o mais significativo autor do período no acervo do IMS. Preservados por seu neto, o pesquisador Gilberto Ferrez, os negativos de vidro e as tiragens produzidas pelo próprio fotógrafo compõem a maior parte da Coleção Gilberto Ferrez, adquirida pelo IMS em maio de 1998. A reunião de 15 mil imagens não tem rival entre os acervos privados de fotografia brasileira da época.
Exposição Marc Ferrez: Território e Imagem
IMS Paulista - Galeria 1
Avenida Paulista, 2424 - São Paulo/SP
Horário
Terça a domingo e feriados (exceto segunda), das 10h às 20h.
Quinta, exceto feriados, das 10h às 22h
Entrada gratuita
De 26 de março a 21 de julho de 2019
Fonte: IMS
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