Fotógrafos: Hildegard Rosenthal, pioneira do fotojornalismo brasileiro.
Hildegard Rosenthal, a primeira mulher fotojornalista no Brasil.
Nascida por acaso em Zurique, na Suíça, onde seus pais se encontravam de passagem, Hildegard Baum (seu nome de solteira) viveu na cidade de Frankfurt na Alemanha, onde estudou pedagogia de 1929 a 1933. Formada em pedagogia, teve, uma revelação precoce de seu talento como fotógrafa em 1929, ao vencer o concurso promovido pelo jornal Neue Freie (atual Die Press) com o retrato de um menino – prenúncio de sua eterna atração pelo tema da infância. Depois de uma temporada em Paris, voltou à Alemanha e estudou fotografia com Paul Wolff, especialista na câmera Leica, além de técnicas de laboratório no Instituto Gaedel. O curso marcou a carreira de Hildegard.
Hildegard não era judia, mas seu namorado, Walter Rosenthal, sim. Como resultado do regime nazista mudaram-se para São Paulo em 1937, onde se casaram. Após poucos meses trabalhando numa empresa chamada Kosmos Foto, como orientadora de serviços laboratoriais, a fotógrafa foi contratada por uma pequena e recém-criada agência de notícias, a Press Information, passando a publicar suas imagens em órgãos da imprensa nacional e estrangeira.
Após encerrar sua carreira como fotojornalista, em 1948, ano de nascimento de sua primeira filha, Hildegard Rosenthal passou a fotografar apenas por prazer e elegeu as crianças como tema. Meninas japonesas fotografadas no bairro da Liberdade, engraxates e pequenos jornaleiros se destacam em suas fotos. Em 1959, depois da morte do marido, Hildegard assumiu a direção da empresa da família.
Neste período, Hildegard guardou as reportagens publicadas em um armário no fundo da garagem e os negativos num gaveteiro de madeira. Nele suas filhas brincavam de "escritório".
A fotógrafa não tinha muita preocupação com sua obra dos anos 1930 e 1940. Não catalogava os negativos (muitos de vidro feitos com a máquina Graflex e outros feitos com a Leica), não os datava, mas os localizava com rapidez quando solicitados.
Acreditava que sua fase profissional estava encerrada e queria esquecer as condições precárias em que trabalhou e o desdém com que eram tratados os fotógrafos na época.
Por não achar que a obra tivesse importância iconográfica, um dia, conta a filha Dorothéa, "presenciei a minha mãe abrir os armários da garagem e rasgar jornais, revistas e se desfazer de muitos negativos, pois estavam ocupando espaço". Na ocasião, ela jogou cerca de 13 mil negativos fora.
Sua obra permaneceu em relativa obscuridade até 1974, quando o historiador da arte Walter Zanini organizou sua primeira exposição individual no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo. No ano seguinte, a exposição Memória paulista inaugurava o Museu da Imagem e do Som na cidade. Em 1977, Hildegard ganhou o prêmio de melhor fotógrafa na XIV Bienal Internacional de São Paulo. “É indiscutível que Hildegard Rosenthal inaugura um estilo de fotorreportagem no país”, escreveu o historiador da fotografia Boris Kossoy no catálogo da exposição Cenas urbanas, organizada pelo IMS.
Um acervo, com 3.400 negativos de sua obra, foi adquirido pelo Instituto Moreira Salles em 1996 e reúne praticamente toda sua fase profissional, que destaca cenas urbanas de São Paulo na década de 1930 e 1940, um período em que a cidade passou por um crescimento cultural rápida, tanto material. Hildegard congelou no tempo uma metrópole moderna e movimentada que, no entanto, foi humanizada através de seu olhar fascinado por seus personagens. Outra parte dos negativos foi doada por ela, em vida, para o Museu Lasar Segall.
"A fotografia sem pessoas não me interessa", disse no Museu da Imagem e do Som de São Paulo, em 1981.
As fotos de São Paulo registram o cotidiano da vida urbana: o fluxo de pessoas nas ruas, transporte público, arquitetura, vendedores ambulantes e cidadãos comuns em situações prosaicas. Hildegard registrou pessoas desconhecidas e também modelos que simulavam as circunstâncias do dia-a-dia. Suas imagens têm poucos espaços vazios. O negativo é preenchido quase completamente com conteúdos que são apresentados de forma equilibrada e clara. Valores meio-tom e detalhes na sombra, o que mostra sua intenção de registrar tanta informação.Livro
Metrópole: Hildegard Rosenthal
Publicado pelo Instituto Moreira Salles, o livro é uma coletânea de fotos da artista, com mais de 100 fotografias feitas nos anos 1940 por Hildegard Rosenthal, o livro Metrópole tem organização e texto de abertura da historiadora Maria Luiza Ferreira de Oliveira e um conto de Beatriz Bracher, inspirado na obra da fotógrafa.
A publicação é dividida em cinco partes. A primeira, “Cenas urbanas”, registra o olhar peculiar de Rosenthal sobre a São Paulo da época. Na seção “Edifícios e grafismos”, as imagens da fotógrafa tornam-se um pouco mais abstratas e ressaltam as linhas curvas de prédios, o verticalismo das plantas e a simetria entre edifícios vizinhos. Em “Interior”, é possível observar os romeiros de Pirapora do Bom Jesus, ou o espetáculo de um circo, com marionetes e máscaras. Ela também se interessou por fazendas, escolas e, principalmente, pelo universo popular, seja da religiosidade, das crianças ou do trabalho.
“Noite/Chuva” é um recorte do trabalho de Rosenthal que privilegia a existência da cidade não apenas em seus monumentos ou enquadramentos ensolarados e bem montados. Nas imagens feitas na chuva, a fotógrafa mostra a fragilidade do espaço, incertezas, poças pelo chão. Hildegard Rosenthal também fotografou pessoas famosas. Na seção “Retratos”, encontramos imagens de pintores e escritores. Lasar Segall, Anatol Rosenfeld, Jorge Amado e Alfredo Volpi foram alguns dos retratados.
"Eu não uso equipamento, eu uso uma câmera, pois não quero depender de equipamentos, isso me irrita. Uso a minha sensibilidade, os meus olhos e a luz". Dessa maneira, Hildegard Rosenthal, pioneira do fotojornalismo brasileiro, definia seu método de trabalho.
Publicado pelo Instituto Moreira Salles, o livro é uma coletânea de fotos da artista, com mais de 100 fotografias feitas nos anos 1940 por Hildegard Rosenthal, o livro Metrópole tem organização e texto de abertura da historiadora Maria Luiza Ferreira de Oliveira e um conto de Beatriz Bracher, inspirado na obra da fotógrafa.
A publicação é dividida em cinco partes. A primeira, “Cenas urbanas”, registra o olhar peculiar de Rosenthal sobre a São Paulo da época. Na seção “Edifícios e grafismos”, as imagens da fotógrafa tornam-se um pouco mais abstratas e ressaltam as linhas curvas de prédios, o verticalismo das plantas e a simetria entre edifícios vizinhos. Em “Interior”, é possível observar os romeiros de Pirapora do Bom Jesus, ou o espetáculo de um circo, com marionetes e máscaras. Ela também se interessou por fazendas, escolas e, principalmente, pelo universo popular, seja da religiosidade, das crianças ou do trabalho.
“Noite/Chuva” é um recorte do trabalho de Rosenthal que privilegia a existência da cidade não apenas em seus monumentos ou enquadramentos ensolarados e bem montados. Nas imagens feitas na chuva, a fotógrafa mostra a fragilidade do espaço, incertezas, poças pelo chão. Hildegard Rosenthal também fotografou pessoas famosas. Na seção “Retratos”, encontramos imagens de pintores e escritores. Lasar Segall, Anatol Rosenfeld, Jorge Amado e Alfredo Volpi foram alguns dos retratados.
"Eu não uso equipamento, eu uso uma câmera, pois não quero depender de equipamentos, isso me irrita. Uso a minha sensibilidade, os meus olhos e a luz". Dessa maneira, Hildegard Rosenthal, pioneira do fotojornalismo brasileiro, definia seu método de trabalho.
Nenhum comentário