Uma fotografia não é apenas um pedaço de papel.
Mais uma vez teremos aqui a contribuição, sempre muito valiosa, da fotografa Salete Santos, que escreveu para o blog no dia internacional da mulher (leia:Mais uma homenagem.).
Desta vez seu texto nos remete a uma questão infindável: O que é fotografia?
No primeiro texto deste ano esta indagação já havia aparecido neste espaço (leia:Um mês, festas, férias e fotografia.) e provavelmente será uma questão que surgirá muitas outras vezes.
Sem a pretensão de criar uma resposta definitiva a esta pergunta, mas mostrando alguns de seus aspectos, apenas pretendemos levantar idéias para o pensamento fotográfico, para continuarmos indo alem do olhar.
Foto e montagem: Márcio Neves
"Uma foto não é apenas um pedaço de papel
Dia desses uma amiga muito próxima me liga, arrasada, solicitando um tempinho pra conversar, pois tinha rompido seu casamento na noite anterior.
Lá vou eu ao seu encontro, tendo que me passar por uma terapeuta.
Ela começa a relatar a briga, os problemas e eis que no decorrer da conversa, cita que já havia separado alguns pertences do marido (agora ex), que eram dele por direito e nessa tarefa encontrou o álbum do casamento, ficou extremamente furiosa, resolveu destruí-lo e jogou no lixo.
Nem ousei indagar o porquê da atitude, mas enquanto ela prosseguia com suas lamúrias, eu pensava:
Como pode um pedaço de papel (como diriam alguns) com retratos de pessoas que estão ou já estiveram em nossa vida, despertar sentimentos tão extremos, desde fortes alegrias e lembranças felizes até os piores, como a raiva, a dor??? Deve haver uma explicação.
Situações como esta já foram a base de pesquisas de psicólogos e neurocientistas que se utilizaram de fotografias para estudo do cérebro humano e seus sentimentos.(leia:http://blogs.universia.com.br/conhecimento/2008/11/10/quando-o-amor-acaba/ ).
Essa forte ligação que temos com as imagens, principalmente a fotografia, nos dias de hoje, deve-se ao fato de nós humanos ainda termos dificuldades em lidar com a morte e assim, ao perceber que esse fato traumático era algo inevitável, o homem simplesmente tentou atenuar essa situação: fazer uma imagem do inominável, ou seja, um duplo do morto para mantê-lo vivo. – inicialmente esculpida; posteriormente, pintada e atualmente fotografada ou filmada.
É como se imagem estivesse aí para preencher uma carência, já que representar é tornar presente o ausente. Portanto, não é somente evocar, mas substituir. Conforme explica Regis Debray em seu livro “Vida e Morte da Imagem”.
Assim, ao descartar ‘aquele pedaço de papel’, minha amiga, provavelmente, se sentiu ‘matando’ o marido, excluindo-o de sua vida para sempre.
Fotografia não é apenas um pedaço de papel, e sim um pedaço de papel que guarda um pedaço de vida."
Salete Santos iniciou-se na fotografia em 1993, como um hobby, atuando posteriormente como fotojornalista. Decidiu estudar um pouco mais e ingressou no Bacharelado em Fotografia da Faculdade Senac e em seguida pós graduou-se em Criação Visual e Multimídia, pela Universidade São Judas. Atualmente atua numa universidade e desenvolve projetos pessoais.
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